Costuma-se diferenciar dois tipos de literatura, com
regras distintas de produção e consumo: a "culta" e a de
"massa" (leia-se também best-seller ou folhetim). O estilo culto
implicaria uma intervenção pessoal do escritor, tanto na técnica romanesca
corrente quanto na língua nacional escrita. O autor, de certo modo, criaria uma
língua própria ao escrever. Seus textos não seriam comandados por fatos reais
da história, conteúdos informativos ou pedagógicos que pretendessem chegar como
"verdadeiros" à consciência do leitor. Já na literatura considerada
de massa, o que importa são os conteúdos "fabulativos" (a intriga com
a estrutura clássica de princípio-tensão, clímax, desfecho e catarse),
destinados a mobilizar a consciência do leitor, exacerbando sua sensibilidade.
Enquanto produto da literatura de massa ou folhetinesca,
o best-seller é resultado do processo de industrialização mercantil e efeito da
ação capitalista sobre a cultura, sendo produto das exigências geradas pela
sociedade moderna e inscrevendo, em sua produção, as diretrizes ideológicas
dominantes de "interpretação e reconhecimento do sujeito humano. A
preservação da retórica culta está presente na literatura de entretenimento
trivial pela estrutura e pelo conteúdo. A enumeração dos conteúdos explícitos e
dos elementos estruturais encontrados na literatura de massa ajuda a iluminar o
fenômeno da indústria cultural, mas não o caracterizam de forma definitiva,
pois todos os elementos enumerados também podem ser encontrados esporadicamente
na chamada alta literatura.
Apesar de o mundo já ser uma aldeia globalizada em termos
de comunicação, ainda existem intelectuais que dividem a literatura de outra
forma: literatura propriamente dita e a subliteratura. Às vezes, nem está em jogo
a qualidade da obra, mas a penetração popular dela. Há ainda o questionamento
de que sem a comunicação não há o momento estético, mas os elitistas preferem a
arte que oculta, que se nega a interagir com o leitor comum, só com alguns. Uma
atitude difícil de ser aceita em se tratando de literatura, que prima pela
comunicação. Partindo do pressuposto de que o ser humano não vive sem a arte, a
pessoa participante da massa informe e ignóbil também tem sua estética, que
está seja nos pagodes, na música sertaneja, na MPB, na televisão, nos jornais,
nas revistas, ou nos livros, porém é pichada de arte da redundância, de
descartável, de produto da indústria cultural. Desta postura nasce também o
endeusamento do livro, como única forma de expressão literária e o congelamento
dos gêneros literários. No limiar do século XXI, ainda há gente que despreza a
revista e o jornal. Exemplo claro disso é a exigência das academias de letras,
pois só pode participar delas quem já escreveu um livro, e ainda se critica
quem está nela porque escreveu livros de caráter científico.
Analisando ainda as pesquisas brasileiras sobre o consumo
da literatura de massa e os estímulos que esta pode estar transmitindo, aliados
aos da mídia em geral, observa-se determinada incoerência. Se os textos têm
como objetivo final serem lidos pelo maior número possível de pessoas, por que
até muito recentemente quase não se pesquisava sobre a crítica do leitor
‘comum’ acerca dos textos lidos? Ao se prosseguir nessa linha de raciocínio,
identifica-se uma prática que de certa forma denota inversão de valores:
analisa-se o texto, como arte ou não, relegando a segundo plano o objetivo
primeiro: ser lido por alguém, ou o leitor. Tal prática até recentemente
colaborou para que os estudos, postulados e teses sobre leitura ficassem mais
no nível teórico, na crítica de conteúdo, relegando o leitor a um patamar
secundário, especulativo. Apesar do enfoque de estudos nas ciências sociais na
atualidade ter-se direcionado para o individual, a subjetividade, alteridade e
também o cotidiano, a realidade é que ainda são pouquíssimas as linhas de
pensamento e pesquisas desenvolvidas com o intuito de levantar a crítica e o
gosto do leitor.
Fonte: Trabalhos escolares/Infoescola
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