quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Ensaio Sobre a Cegueira - "Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara."



O livro Ensaio Sobre a Cegueira do escritor português, José Saramago  conta a história de uma “cegueira branca” que atingiu uma cidade, começou aos poucos mas atingiu vários, gerou o caos na cidade, pois se proliferava de maneira surpreendente. Os novos cegos não podendo ser curados ou controlados foram colocados em uma espécie de quarentena até que o governo conseguisse acabar com esse caos, o que não aconteceu. O caos aumentou e as pessoas deixadas em quarentena foram obrigadas a lutar por comida e a despertar seus instintos mais selvagens em busca de sobrevivência. Em meio a toda essa situação havia uma mulher, esposa do médico que foi procurado pelo primeiro atingido pela cegueira, e essa mulher enxergava, foi parar naquele lugar acompanhando o marido e de repente se viu em um mundo que não imaginava, viu o pior e o melhor das pessoas ali, enquanto tentava ajuda-las. Um dia, essa mulher percebeu que não existia mais guarda prendendo-os naquela quarentena e saiu de lá junto com outras pessoas rumo a cidade que já estava destruída, juntou mantimentos, voltou pra casa, e então tão de repente quanto a cegueira surgiu ela se foi e as pessoas passaram a ver, de um jeito que nunca tinham visto a vida antes.

Podemos  ver no site: http://www.espacoacademico.com.br/088/88praxedes.htm que neste livro, portanto, o autor expõe a cegueira para evidenciar a importância do olhar, como explica a professora Teresa Cristina Cerdeira da Silva:

"... esse Ensaio sobre a cegueira pode ser lido inversamente como um ensaio sobre a visão. Esses cegos chegaram ao fundo do poço de onde puderam ver surgir suas fraquezas, sua arrogância, sua intolerância, sua impaciência, sua violência, a monstruosidade dos universos concentracionários. Mas assistiram também à sua própria força, à sua solidariedade, à sua generosidade, ao seu espírito revolucionário e à revisão de seus próprios preconceitos. Este, repito, é um ensaio sobre a visão: do outro, das relações humanas, das linguagens e seus clichês, da verdade, do poder e até dos gêneros literários nesse romance que, como se sabe, se quer ensaio. Porque este não é tão-somente um romance cujo assunto é a cegueira, mas também um ensaio entendido como experiência, experimentação que revele a possibilidade de enxergar para além das aparências, para além dos seus próprios limites convencionais." (SILVA, 1999:  294)

A cegueira pode ser encarada, assim, como um conjunto de representações falsas que embora surjam na própria vivência, nas relações sociais cotidianas, podem se autonomizar e passar a dominar o vivido, bloqueando a apreensão da realidade e a práxis, e impedindo a busca do novo. Tais representações dissimulam a realidade, uma vez que alguns cegos "...não o são apenas dos olhos, também o são do entendimento" (EC: 213) e assim difundem o seu mal como ocorre quando um "...olho que está cego transmite a cegueira ao olho que vê..." (EC: 111).

A epidemia de cegueira descrita é a alegoria sobre o horror vivenciado mas não visto; o olhar é a capacidade de ver e de reparar os males da convivência humana nas sociedades contemporâneas: "Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara" (EC: 7).

Na apresentação pública desse romance o próprio José Saramago disse:  "Este é um livro francamente terrível com o qual eu quero que o leitor sofra tanto como eu sofri ao escrevê-lo. Nele se descreve uma longa tortura. É um livro brutal e violento e é simultaneamente uma das experiências mais dolorosas da minha vida. São 300 páginas de constante aflição. Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que é preciso que tenhamos coragem para reconhecer isso." (Fonte:http://www.coladaweb.com/resumos/ensaio-sobre-a-cegueira-jose-saramago)

E ele não poderia ter descrito de melhor forma, o livro nos mostra constantemente quem realmente somos por dentro, exatamente aquele aspecto do nosso caráter que tentamos de toda forma esconder para que pareçamos  belos (externa e internamente) aos olhos dos outros e de nós mesmos, uma vez que nos tiram esse sentido e nos vemos tendo que lutar pela sobrevivência vemos que somos animais de fato, não adianta tentar fugir, aceitar é o melhor a ser feito.
Giovanna Arruda

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