quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Tecendo a manhã

João Cabral de Melo Neto


Um galo sozinho não tece uma manhã;
ele precisará sempre de outros galo.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; a de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se comportando em tela, entre outros,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo ara todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A amanhã , toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.

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