sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Narração


 Narração é o ato de relatar um fato real ou imaginário por meio de palavras transmitidas oralmente ou por escrito.
 As narrativas têm acompanhado o homem desde os tempos mais remotos. Não há povos sem narrativas, pois o homem sente necessidade de recriar os fatos vividos ou, pela imaginação, inventar. Existem narrativas de todos os tipos: a crônica, o conto, um relato simples são chamados de narrativa curta; a novela, o romance são denominados gêneros longos. Importante, no entanto, é o fato de o homem sentir-se bem narrando, pois identifica-se com os fatos, exercita sua capacidade de criar por meio da imaginação, ou recria fatos importantes de sua vida passada.
 Para o ouvinte ou leitor, a narrativa ficcional tem o poder de evocar uma atmosfera psicológica ou afetiva, é importante arma para fixar princípios morais ou denunciar os costumes de uma sociedade em seu tempo. Faz evocar saudades, tristezas, abandono e/ou quaisquer outros sentimentos tão próprios dos homens.

Passo a Passo da Narração

 De modo geral, há um roteiro em que podemos inserir um fato a ser narrado, podendo ser sintetizado da seguinte maneira:
 Quem? - serve para apresentar os personagens que viverão os fatos.
 Quê? - introduz a história propriamente dita. Consiste em um levantamento de fatos, eventos. É o enredo da narração.
 Quando? Onde? - envolvem tempo e espaço, essenciais para o desenvolvimento do enredo.
 Como? - modo como se desenvolvem os acontecimentos. Deve ser respondido de maneira lógica e direta.
 Por quê? - se houver, indica causas do fato relatado.
 Para narrar, é necessário conhecer suficientemente bem a história que vai ser contada. Deve-se esboçar, rascunhar, sintetizar as idéias centrais, o foco de interesse, o eixo de compreensão da história.
 Função das partes na narração:
  • Na introdução, é necessário sugerir ou apresentar o que vai ser contado no desenvolvimento. Não há regras, mas, de modo geral, deve-se dar a direção da história, atiçando a curiosidade do leitor para o que cai ser contado nos parágrafos subsequentes.
  • No desenvolvimento, é ampliada a visão dada na introdução. É o chamado entrecho, enredo urdidura ou trama. Deve-se manter o leitor atento, criar expectativa, dirigir a leitura para o final. Torna-se importante sugerir, evocando sensações e captando impressões do narrador para serem passadas ao leitor.
  • A conclusão não deve esgotar as sugestões. Na medida do possível, o narrador deve interromper a narrativa de modo a deixar o leitor ainda envolvido. Portanto, não esclarecer devidamente os fatos é um dos bons recursos para a finalização da história.

Exemplo de Texto Narrativo

    "O cajueiro já devia ser velho quando nasci. Ele vive nas mais antigas recordações de minha infância: belo,  imenso, no alto do morro atrás da casa. Agora vem uma carta dizendo que ele caiu.
    Eu me lembro do outro cajueiro que era menor, e morreu há muito tempo. Eu me lembro dos pés de pinha, do cajá-manga, da grande louceira de espadas-de-são-jorge (que nós chamávamos simplesmente "tala") e da alta saboneteira que era nossa alegria e a cobiça de toda a meninada do bairro porque fornecia centenas de bolas pretas para o jogo de gude. Lembro-me da tamareira, e de tantos arbustos e folhagens coloridas, lembro-me da parreira que cobria o caramanchão, e dos canteiros de flores humildes, beijos, violetas. Tudo sumira; mas o grande pé de fruta-pão ao lado da casa e o imenso cajueiro lá no alto eram como árvores sagradas protegendo a família. Cada menino que ia crescendo ia aprendendo o jeito de seu tronco, a cica de seu fruto, o lugar melhor para apoiar o pé e subir pelo cajueiro acima, ver de lá o telhado das casas do outro lado e os morros além, sentir o leve balanceio da brisa da tarde.
     No último verão ainda o vi; estava como sempre carregado de frutos amarelos, trêmulo de sanhaços.            Chovera: mas assim mesmo fiz questão de que Caribé subisse o morro para vê-lo de perto, como quem apresenta a um amigo de outras terras um parente muito querido.
     A carta de minha irmã mais moça diz que ele caiu numa tarde de ventania, num fragor tremendo pela  ribanceira; e caiu meio de lado, como se não quisesse quebrar o telhado de nossa velha casa. Diz que passou o dia abatida, pensando em nossa mãe, em nosso pai, em nossos irmãos que já morreram. Diz que seus filhos pequenos se assustaram, mas depois foram brincar nos galhos tombados.
       Foi agora, em fins de setembro. Estava carregado de flores."


(Rubem Braga, Cem Crônicas Escolhidas, Rio de Janeiro, José Olímpio, 1956.)

 No texto de Rubem Braga, podemos perceber claramente uma possível estrutura do ato de narrar. A introdução é apresentada no primeiro parágrafo. Acompanhado o ritmo dos parágrafos, temos o desenvolvimento até o penúltimo parágrafo e, nas duas orações finais, está encerrada a conclusão.
 A introdução apresenta a ideia principal do texto: o cajueiro caiu. A partir daí, sugere as antigas recordações da infância. A narrativa apresenta tom pessoal em primeira pessoa.
 No desenvolvimento, temos a sugestão como força motriz. A partir ideia principal - a queda do cajueiro -, o narrador evoca as peripécias da infância, lembra-se da última visão que teve da árvore e já anuncia o desenlace da história (contido na introdução - ele caiu).
 Na conclusão, o autor está emocionado ao se lembrar da época do desastre - fins de setembro -, evoca  a primavera com o cajueiro que "estava carregado de flores" e, apesar do viço, tombou para morrer.

Ponto de Vista do Narrador

 Para contar uma história, o escritor dispõe de três modos. Uma personagem que participa dos fatos contados transforma-se em narrador.
 Nesse caso existem duas possibilidades: ou o personagem é protagonista, e se transforma no centro da narrativa, ou é secundário, portando-se como mero observador dos fatos que correm ao seu redor. No primeiro caso, há um limite muito grande, circunscrevendo-se ao mundo do protagonista; no segundo, a visão poderá ser ampliada com observações sobre o mundo exterior, mais do que o mundo interior da personagem. Bons exemplos de narrativas em 1ª pessoa cujo protagonista revela sua visão de mundo são Dom Casmurro, de Machado de Assis, e São Bernado, de Graciliano Ramos. O mesmo Machado, em Memorial de Aires, pode ilustrar a narrativa em 1ª pessoa sem o transbordamento da subjetividade, servindo o narrador mais como testemunha ocular do fato narrado; ele torna-se um observador dos fatos com eventual participação neles.
 No caso da 3ª pessoa, o narrador pode ser onisciente, uma vez que todos os fato ocorridos na narrativa estão sob sua criação, isto é, ele sabe tudo a respeito das personagens e da história. É a forma mais difundida de narração, como em Senhora, de José de Alencar, ou Os Maias, Eça de Queirós.
 Massaud Moisés, em A Criação Literária, refere-se aos focos da narrativa da seguinte maneira: "Cada um dos focos apresenta simultaneamente vantagens e desvantagens para o ficcionista, pois favorecem ou limitam a possibilidade de examinar o panorama em que a história transcorre. Não sendo, nenhum deles, perfeito e completo, o importante é o escritor, optando por um deles, conseguir realizar seu intento fundamental; contar-nos uma história que nos convença". 

Fonte: Apostila Etapa.


Comentário: A narrativa é a forma de se expressar através da escrita ou da fala, sem a importância de ser uma história verdadeira ou inventada pelo narrador, a história narrada contêm elementos que o narrador já viveu ou gostaria de viver. Quando uma pessoa narra uma história ela transmite seus sentimentos para outras pessoas ao seu redor, passando suas experiências para futuras gerações, os narradores podem também fazer um crítica social da época direta ou indiretamente. A narração é maneira mais utilizada para se comunicar. - Michael Taguchi



 

 


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