sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Literatura de massa


Costuma-se diferenciar dois tipos de literatura, com regras distintas de produção e consumo: a "culta" e a de "massa" (leia-se também best-seller ou folhetim). O estilo culto implicaria uma intervenção pessoal do escritor, tanto na técnica romanesca corrente quanto na língua nacional escrita. O autor, de certo modo, criaria uma língua própria ao escrever. Seus textos não seriam comandados por fatos reais da história, conteúdos informativos ou pedagógicos que pretendessem chegar como "verdadeiros" à consciência do leitor. Já na literatura considerada de massa, o que importa são os conteúdos "fabulativos" (a intriga com a estrutura clássica de princípio-tensão, clímax, desfecho e catarse), destinados a mobilizar a consciência do leitor, exacerbando sua sensibilidade.

Enquanto produto da literatura de massa ou folhetinesca, o best-seller é resultado do processo de industrialização mercantil e efeito da ação capitalista sobre a cultura, sendo produto das exigências geradas pela sociedade moderna e inscrevendo, em sua produção, as diretrizes ideológicas dominantes de "interpretação e reconhecimento do sujeito humano. A preservação da retórica culta está presente na literatura de entretenimento trivial pela estrutura e pelo conteúdo. A enumeração dos conteúdos explícitos e dos elementos estruturais encontrados na literatura de massa ajuda a iluminar o fenômeno da indústria cultural, mas não o caracterizam de forma definitiva, pois todos os elementos enumerados também podem ser encontrados esporadicamente na chamada alta literatura.

Apesar de o mundo já ser uma aldeia globalizada em termos de comunicação, ainda existem intelectuais que dividem a literatura de outra forma: literatura propriamente dita e a subliteratura. Às vezes, nem está em jogo a qualidade da obra, mas a penetração popular dela. Há ainda o questionamento de que sem a comunicação não há o momento estético, mas os elitistas preferem a arte que oculta, que se nega a interagir com o leitor comum, só com alguns. Uma atitude difícil de ser aceita em se tratando de literatura, que prima pela comunicação. Partindo do pressuposto de que o ser humano não vive sem a arte, a pessoa participante da massa informe e ignóbil também tem sua estética, que está seja nos pagodes, na música sertaneja, na MPB, na televisão, nos jornais, nas revistas, ou nos livros, porém é pichada de arte da redundância, de descartável, de produto da indústria cultural. Desta postura nasce também o endeusamento do livro, como única forma de expressão literária e o congelamento dos gêneros literários. No limiar do século XXI, ainda há gente que despreza a revista e o jornal. Exemplo claro disso é a exigência das academias de letras, pois só pode participar delas quem já escreveu um livro, e ainda se critica quem está nela porque escreveu livros de caráter científico.


Analisando ainda as pesquisas brasileiras sobre o consumo da literatura de massa e os estímulos que esta pode estar transmitindo, aliados aos da mídia em geral, observa-se determinada incoerência. Se os textos têm como objetivo final serem lidos pelo maior número possível de pessoas, por que até muito recentemente quase não se pesquisava sobre a crítica do leitor ‘comum’ acerca dos textos lidos? Ao se prosseguir nessa linha de raciocínio, identifica-se uma prática que de certa forma denota inversão de valores: analisa-se o texto, como arte ou não, relegando a segundo plano o objetivo primeiro: ser lido por alguém, ou o leitor. Tal prática até recentemente colaborou para que os estudos, postulados e teses sobre leitura ficassem mais no nível teórico, na crítica de conteúdo, relegando o leitor a um patamar secundário, especulativo. Apesar do enfoque de estudos nas ciências sociais na atualidade ter-se direcionado para o individual, a subjetividade, alteridade e também o cotidiano, a realidade é que ainda são pouquíssimas as linhas de pensamento e pesquisas desenvolvidas com o intuito de levantar a crítica e o gosto do leitor.
 
Fonte: Trabalhos escolares/Infoescola

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