quarta-feira, 6 de março de 2013

Tim Maia ganha espaço na cena de soul dos EUA


Madrugada de um sábado recente no Brooklyn Bowl, casa da moda em Nova York para se ouvir funk e soul music.

A noite começa com a banda inglesa The New Mastersounds, revelação do gênero do final dos anos 1990, e prossegue com o DJ nova-iorquino Greg Caz, com repertório dos anos 1970 e 1980.

Logo, a poderosa voz de Tim Maia (1942-1998) ecoa na balada --a primeira da noite foi "Eu e Você, Você e Eu", sucesso dos bailes black brasileiros na década de 1980.

Quinze anos após sua morte e mais de meio século depois de se mudar para os EUA ainda adolescente, sonhando em construir carreira no país, Tim Maia finalmente consegue um lugar ao sol no time principal de artistas de funk e soul tocados no país, meca dos gêneros.

Desde que apareceu, em outubro, "Nobody Can Live Forever: The Existencial Soul of Tim Maia", primeiro disco do artista lançado nos EUA, o nome do brasileiro ganha espaço e respeito nos círculos especializados do país.


Cartaz do vídeo que apresenta Tim Maia nos Estados Unidos


A coletânea (com músicas em português e inglês), lançada pela gravadora Luaka Bop, do músico David Byrne, foi bem recebida pela mídia. O "New York Times" definiu Tim como "um pioneiro em adaptar o soul americano ao gosto brasileiro". A revista "The New Yorker" publicou reportagem sobre seu passado na cidade de Tarrytown.
A gravadora preparou um vídeo de animação promocional, narrado pelo cantor americano Devendra Banhart, em que Tim é apresentado como um dos maiores artistas soul de todos os tempos.

Não faltam também referências ao seu lado selvagem, doidão, e às brigas judiciais.
"Lançar um artista como Tim aqui não é fácil, temos que começar praticamente do zero. Torná-lo mais conhecido é um processo que leva tempo", disse à Folha Yale Evelev, presidente da Luaka Bop.

HERDEIROS

Um dos grandes legados de Sebastião Rodrigues Maia à música brasileira foi introduzir no Brasil elementos da música negra americana, como soul e funk, que misturou a ritmos como samba e baião.

Em 1959, aos 17 anos, uma década antes de sua carreira deslanchar no Brasil, Tim se fixou ilegalmente nos EUA, onde fez um pouco de tudo (leia abaixo).

O disco preparado exclusivamente para o mercado americano demorou dez anos para chegar à praça. Longas tratativas com os herdeiros de Tim impediram que a coletânea saísse antes.

"Ele não está mais em um gueto nos EUA, restrito apenas aos admiradores de vinil", comentou Greg Caz.

Aficionado por Tim Maia, o DJ aprendeu português ouvindo música brasileira, que lhe foi aplicada pelo pai americano. Em Nova York, entre 2001 e 2009, ele tocava Tim Maia todas as noites de domingo em que discotecava no Black Betty, um extinto bar do Brooklyn dedicado ao funk, ao soul e ao rock.

"Definitivamente Tim entrou no mainstream da música soul tocada hoje nos EUA. Há muita admiração por ele", disse o jornalista americano Allen Thayer.

Colaborador da revista de música "Wax Poetics", ele fez uma longa pesquisa sobre Tim e escreveu uma apresentação do cantor no encarte de "Nobody Can Live Forever".

A Luaka Bop, que já lançou discos de outros artistas brasileiros nos EUA, como Tom Zé e Mutantes, não quer parar por aqui. Segundo conta Yale Evelev, a gravadora quer lançar no próximo ano o clássico "Racional", disco que, como no Brasil, também é cultuado nos sebos de vinil de Nova York.

Fonte: Folha de São Paulo


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