quarta-feira, 24 de abril de 2013

O Segredo de Joe Gould: o contador de histórias e um excêntrico andarilho


Quando o jornalista Joseph Mitchell inicia a narrativa sobre um excêntrico miserável de Nova York dos anos 40, o leitor já se depara com um texto que inspira curiosidade. O personagem em questão é um joão-ninguém; um “homenzinho” que anda pelos bares e ruas e não tem nada de celebre ou exemplar para mostrar. E é exatamente isso que instiga também um dos repórteres mais importantes da revista The New Yorker.
Homenzinho é exatamente o primeiro termo que Mitchell usa para designar Joe Gould assim que começa este perfil jornalístico originalmente publicado em 1942. O requinte narrativo pode trazer a desconfiança de que se trata de uma ficção baseada em fatos reais, mas não é o caso. De fato, todos da região de Greenwich Village, Nova York, conheciam esse tal de Joe Gould com suas aparições em bares, tomando um café e comendo muito ketchup das mesas (puro! Não tinha dinheiro). Assim como grupos de poesias, onde o velho baixinho cismava em fazer parte e recitar seus versos que, não saíssem da boca de quem as recitava, não passariam de uma brincadeira de gosto duvidoso.
Além de ser uma presença atípica nas ruas da metrópole, o andarilho beirava o limite entre uma pessoa única e inocente, mas desagradável ao mesmo tempo. Sua excentricidade rendia-lhe convites, assim como podia causar náuseas como quando ele insistia em mostrar saber falar o idioma das gaivotas: o “gaivotês”. Mas seu grande orgulho consistia no maior projeto de sua vida, ao qual chamava Uma história oral do nosso tempo. Nela, o autor relatava sobre pessoas que ia conversando aleatoriamente pela cidade, figuras que, segundo Gould, eram os verdadeiros agentes que moviam a história de um país.
Joseph Mitchell teria todos os motivos para retratar aquele personagem, com quem conviveu por alguns meses entre bares e muitas conversas, de forma jocosa, folclórica e até mesmo pedante ou piedosa. Mas o tratamento honesto rendeu humanização àquele homem, como se, página após página, Mitchell conseguisse ir tirando mais camadas da aparência e palavras de Gould até conseguir expor a alma do personagem.
O livro é dividido em duas partes justamente pelo cuidado que Mitchell tomou ao publicar o que rendeu duas reportagens na New Yorker. O primeiro, intitulado O Professor Gaivota, é mais curto e conta sobre essa figura fascinante que também era capaz de irritar o narrador em algumas conversas que pareciam não ir mais a lugar algum (ou seriam sucessivas fugas de Gould em fugir de um determinado assunto?). O segundo perfil, este o próprio O Segredo de Joe Gould, foi publicado vinte e dois anos após o primeiro, em 1964, quando Gould já havia morrido. Mitchell continuou uma história que julgara impossível de relatar quando seu personagem ainda vivia ,preservando sua dignidade.
O suspense para descobrir o que Joe Gould escondia de todos só não causa tanta aflição porque a narrativa flui e faz com que o leitor se aproxime e crie uma simpatia tanto pelo boêmio nova-iorquino quanto pelas situações vividas por ele. O segredo revelado finda uma busca seguida pelo repórter a passos de detetive e carregada de voltas em torno dessa personalidade tão ímpar.

Fonte: Canto dos Livros

Comentário: O livro O Segredo de Joe Gould é uma referência para qualquer jornalista. O perfil do boêmio foi construído de forma que nos envolvemos e passamos a gostar dessa figura excêntrica. Mitchel nos mostra um outro lado da sociedade, e assim como Joe Gould pretendia, mostra também que figuras desconhecidas também fazem parte da história. 

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