
Por intermédio de uma série de descobertas do próprio Mitchell, o leitor compreende que, apesar de lidar com prática que supõe total transparência - o jornalismo -, no fundo tanto o personagem quanto o autor dos perfis em algum instante vestem máscaras. Mitchell o escutou sóbrio, bêbado, depressivo, radiante, sempre com extrema paciência. Mais como ouvinte, menos como interlocutor. Observou em minúcias o ambiente que o rodeava, desenvolvendo certa intimidade, tentando captar através da topografia uma visão mais completa sobre quem enfim seria Gould. Porém, ante a desconfiança sobre a verdadeira existência da "História oral", absteve-se de desnudá-la.
A interseção de interesses entre Mitchell e Gould dá-se justamente neste anseio. Tanto um quanto o outro, cada qual a seu modo, desejou "escutar o mundo" - e registrá-lo, lutando contra o esquecimento. Após a morte de Gould num hospital psiquiátrico e a veiculação do segundo perfil, Mitchell curiosamente nunca mais publicou mais nada. Findo o misterioso Joe Gould, findo o que por anacrônico lhe era caro, Mitchell preferiu calar-se também.
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