segunda-feira, 13 de maio de 2013

O segredo de Joe Gould



No livro O segredo de Joe Gould o autor Joseph Mitchell mostra suas impressões de sobre um senhor de meia-idade que vivia pelas ruas da região de Greenwich Village em Nova York e que entre cigarros, drinks e pedidos de contribuição a fundo Joe Gould, jurava estar escrevendo o maior livro já visto: “Uma história oral do nosso tempo”, onde relatava a real história construída pelo povo, por meio da anotação de todos os diálogos possíveis.
Joseph Mitchell, repórter da revista The New Yorker, era apaixonado pela cidade de Nova Iorque e pelos seus personagens do povo, bares, boêmios e tudo que se tinha direito em plena década de 1940, saiu às ruas em busca de Joe Gould e seu livro revolucionário. Conversaram em bares, criaram certa intimidade (levando em conta a personalidade impulsiva de Gould) e trocaram histórias, dando assim origem, em 1942, ao perfil “Professor Gaivota” sob a supervisão de William Shawn, que foi um dos grandes editores envolvidos com o nascimento do jornalismo literário e a esta maneira única de contar histórias.
Sim, a matéria foi publicada durante o início dos anos 40, mas a relação entre eles prosseguiu. Durante a construção do perfil do professor gaivota, Joseph Mitchell conheceu os amigos e colaboradores do projeto de Joe Gould, esses, artistas, poetas e boêmios que eram contagiados pelo homenzinho excêntrico que dizia ter escrito 9 milhões de palavras em seu livro.
Gould era de uma família tradicional da região de Boston, filho, neto e bisneto de médico percebia que essa não era sua área ao mesmo tempo que não se encontrava em outras e assim decepcionou sua família. Depois de várias tentativas de se “achar” e de uma falência iminente de sua família que o sustentava, Joe se mudou pra Nova Iorque, escreveu em alguns jornais até um belo dia ter a ideia de escrever a história oral e assim desistir dos padrões normais de vida para se dedicar a sua obra.
Ao se encontrar com Joseph Mitchell para a construção de seu perfil, Joe foi contando ao jornalista sobre sua vida e prosseguiu mesmo depois da publicação da matéria, se encontravam, para beber cerveja, para que Joseph lhe emprestasse dinheiro e até para entregar a Mitchell parte da história oral. Depois de ler alguns capítulos do prometido gigantesco livro, o jornalista encontrou ensaios sobre eventos da vida de Joe ao invés de transcrições de diálogos como prometido, Gould jurava que Joseph só tinha visto um pedaço de seu livro, mas tinha mil impedimentos os capítulos principais de sua história.
Joseph Mitchell pesquisou entre todos os contribuintes para o fundo Joe Gould a que tinham sido confiados capítulos da história oral, mas só encontrou os mesmos ensaios que tinha lido, até que um dia, durante a um discurso de Gould ao dono de uma editora sobre o fato de querer que sua obra fosse póstuma, Mitchell percebeu o grande segredo daquele
misto de boêmio e mendigo das ruas e botecos da cidade que dá nome ao livro e ao segundo perfil, esse publicado em 1964: Não havia livro algum, era só uma ideia, ideia essa que dava suporte a vida de Joe Gould e o fazia sentir útil e importante na vida.
Mitchell não contou o que havia descoberto a ninguém, manteve a imagem de Joe Gould o louco professor gaivota, escritor do maior livro da história, inabalável mesmo depois que este tinha morrido em um hospital psiquiátrico.
Os dois perfis que dão origem ao livro são simples e diretos, mas ao mesmo tempo ricos em detalhes e sentimentos como um bom jornalismo literário que nos faz ter a impressão que somos nós que estamos sentados com Joe Gould ouvindo suas divagações em volta de uma mesa de bar na Nova Iorque entre as décadas de 1940 e 1950.

Fonte imagem: http://www.gazetadopovo.com.br/midia_tmp/370--JoeGould.jpg

Giovanna Arruda Ferreira

Nenhum comentário:

Postar um comentário